foto Hermano Taruma
Mal de Bordo
d’après Eugênio Bucci
Enquanto cuido do meu pequeno jardim,
continua uma corrida antiética,
fabricam crimes e bombas,
tratam pessoas como coisa.
Somos treinados a copiar,
ensaiar o olhar para trabalhar de graça
e aceder a coisas inexistentes.
Temos problemas com a realidade,
deletamos tudo o que é contrário ao nosso desejo
e tudo o que é contrário ao sistema determinado.
Relações viram mercadorias,
saúde e educação viram mercadorias,
obras de arte viram mercadorias,
mercadorias viram obras de arte.
Enquanto cuido do meu pequeno jardim,
tudo se relativiza,
do poder fetichista da imagem
ao bem comum.
foto Hermano Taruma
d’après João Carlos Salles
Desde pequena,
tenho poucas certezas:
gosto de ouvir conversas,
entender os discursos,
tenho problemas com autoimagem,
amo a vida,
a poesia ninguém me tira.
Reconheço a fabricação do olhar
à qual a maioria se entrega,
silenciosamente.
Águas paradas,
“a imagem desliza como signo”.
– Escuta aqui:
seria o gozo segundo Lacan,
ou segundo Waly?
Espia, o primeiro não sei resumir,
múltiplo, complicado,
será que entendi?
O segundo,
trata-se da própria escrita.
“Vemos diferentemente o mesmo,
como se ver fosse também pensar.”
Afinal, “as necessidades se inventam.
O interno precisa de uma confirmação externa.
Ver já é pensamento.”
foto Hermano Taruma
Elucubrações
d’après Renato Lessa
“Para olhar o mundo tem que sair do mundo.”
A evidência comporta um segredo
e vice-versa, também o contrário.
Alucinações, decantações, invenções…
Para avançar é preciso um exemplo inexistente?
“Os dados não falam,
nós é que interpretamos.”
– Acabou?
“Mas se algo é esquecido,
é porque existe.”