terça-feira, 8 de junho de 2010

já conheço os passos dessa estrada...







É rápida a faísca,
memorizada, ilumina toda a vida.
Questão de sobrevivência.
Respira na fonte, passa pelo breu.
Cirurgia, passaporte pra sair
do pobre ermo caminho.

Não diga que é forte,
nem que é fraca.

Ainda está aprendendo
aonde não brecar.
Híbrida, desmesurada,
esqueceu que heróis existem.
Abalroada, sem ritmo
vive em extrasístole.

Corre atrás, sem conhecer
os passos, nem a estrada.





foto fernanda pinto


Aconteceu no Recife



Turistas saem do hotel
reparam a figura desmaiada,
dura testa no chão de asfalto.
A poucos metros do corpo,
uma pasta amarela com elástico.

O porteiro do prédio em frente
chama a defesa civil.
Um transeunte ousa tocá-lo, ele respira.
O homem da banca de jornal arrisca:
é fome.

Primeiro água.
Goles sorvidos
fazem a palidez murmurar
confirmando: é fome.

Chega a comida sem talheres,
direto com as mãos.
Recobrado, não há alguém para ler,
o currículo na pasta amarela.




foto fernanda pinto



“Tudo se passa como se tivéssemos ido da era do pós para era do hiper.(...) Na hipermodernidade, não há escolha, não há alternativa senão evoluir, acelerar para não ser ultrapassado pela “evolução”: o culto da modernização técnica prevaleceu sobre a glorificação dos fins e dos ideais. Quanto menos o futuro é previsível, mais ele precisa ser mutável, flexível, reativo, permanentemente pronto a mudar, supermoderno, mais moderno que os modernos dos tempos heróicos. A mitologia da ruptura radical foi substituída pela cultura do mais rápido e do sempre mais: mais rentabilidade, mais desempenho, mais flexibilidade, mais inovação. Resta saber se, na realidade, isso não significa modernização cega, niilismo técnico mercantil, processo que transforma a vida em algo sem propósito e sem sentido.” Os Tempos Hipermodernos , Gilles Lipovestsky com Sébastien Charles, Ed. Barcarolla, 2004.

O ano passado quando começou a epidemia de febre H1N1, vi um depoimento de um médico americano no qual ele acusava um laboratório de ter produzido este vírus. A partir daí, estariam enriquecendo com a venda de vacinas. É intrigante, não sei dizer se é verdade. O vídeo continua disponível na rede.

Agora vem o Dr. Craig Venter e esse estouro na mídia dizendo que foi criado o primeiro ser vivo artificial. Na verdade, um ser vivo foi transformado em outro. O que os cientistas fizeram foi transformar uma bactéria Mycoplasma capricolum em outra, a Mycoplasma mycoides. Parece que estão conseguindo transformar ficção em realidade. O x da questão é, será para o bem ou para o mal?

Desde que comemos da árvore do conhecimento, o paraíso ficou trancado.”

* Titulo, Retrato em branco e preto de Chico Buarque e Tom Jobim

Da Inspiração e Aconteceu no Recife são poemas inéditos