terça-feira, 15 de março de 2011

além do horizonte, existe um lugar



 foto hermano taruma



A salvação é confiar no futuro,
faz bem – talvez seja tão admirável
esse tipo de solução, especialmente quando se lê jornais –
assistir, já não o suporto.

Consolo – pensar tudo que já foi pior.
E como poderia ser melhor?
Sair da desconfiança é sua única solução,
não existe uma outra opção,
ou melhor, a outra opção não existe,
é o vazio.

De vez em quando, tombo para o lado errado,
me sinto torta, dolorida,
trabalho nisso há anos.
            
Existe um segredo: 
confiar no trabalho,
não ser masoquista,
moralista,
ou corrupto.
Corruptos não dormem bem.
– Será?
Ha, ha ,ha, ha...
– Eles riem muito?
Pior... acham que a merda (deles) é cheirosa.



 foto hermano taruma

  

Andei lendo outros poetas, aqui os transcrevo:




Jorgeando 2

                         para Paulo Lins e Waly Salomão


na sombra do coqueiro
no meio do coqueiral
eu canto
com firmeza
meu canto espacial


dormi
numa pedra
ao relento
estrelas no céu
noite longa
acordei exausto


entre molas aparentes
o corpo da bailarina
se expressa
se expande
sua coragem
num zig zag
de jeitos e formas
curtindo a pele
com piruetas
e aprontes

porto algum
ou talvez
uma porta
por onde se possa
penetrar
na semana
farta mesa de jantar
vitrines
transeuntes
variadas observações
onde a felicidade?

tecido azulado
o dia vai se processando
em ciclos
de perguntas
e conceitos
como nuvens
se formam se diluem
na plenitude
respiratória do universo

assim é a cor
a luz
brotando entre folhagens
agreste aparecer da claridade
no tempo
entre dias e noites
âmbar
sonâmbulo balançar
do bambuzal
a lenta mangueira
de corte fino
triste porte
a extensa flor dos cachos
na passagem do vento
e da sombra
gerando outra visão


será isso poesia?
um tiro seco
nenhum grito
cães latem
madrugada fria
rio de janeiro
brasil
américa do cu


Poema de Jorge Salomão, publicado em Inimigo Rumor 8, Sete Letras, 2000


Um Lugar Comum



Saímos de uma noite, estamos noutra,
Nós somos um só dia, e nós contamos
Nossos minutos pelas nossas dores
       Sousândrade


Nada como um dia após o outro.
Nada,
um imenso meio-dia, sem descanso:
minério de veio antigo
seco pranto;
cascalho pisado,
natureza bruta
sem espanto.

Poema de José Almino, publicado em Inimigo Rumor 8, Sete Letras, 2000



Tempo


Um dia nos lembraremos deste tempo se lembranças
houver
que estivemos nesta sala que algumas vezes nos
tocamos
éramos mais felizes mais moços

um dia nos levaremos deste tempo se levar
houver


Poema de Cacaso, publicado em Inimigo Rumor 8, Sete Letras, 2000



Título, Além do Horizonte de Erasmo Carlos e Roberto Carlos