terça-feira, 18 de outubro de 2011

e cada verso meu será pra te dizer






“A esperança está portanto numa poesia pela qual o mundo invada a  tal ponto o espírito do homem que ele venha a perder a palavra, depois reinvente um jargão. Os poetas não têm de modo algum de cuidar das relações humanas, mas ir de cabeça até o fundo do poço. A sociedade, aliás, se encarrega muito bem de empurrá-los, e o amor das coisas de mantê-los ali; eles são os embaixadores do mundo mudo.” Francis Ponge







Apetite disperso


A moça sorri ao ler a mensagem no celular,
a bicicleta desvia do carrinho de bebê,

no jogo das tendências aleatórias,
a terceira opção desestabiliza o mecanismo,

um tropeço,
a calma parece não ser inerente a nada,

a responsabilidade lhe cabe
sem peso no ombro,

espera-se mais,
aceita-se o mínimo,

em meio à barbárie,
qualquer migalha apetece.







foto g secchin






Se alguém tentar decifrar essa mensagem, é bom saber que tudo é contestação, estou sempre contestando a autoridade. Entretanto, não posso deixar de levar em conta que a tenho em mim.

Por que não encaramos a felicidade? O medo sempre passa pela cabeça de maneiras estranhas. Oh, Céus! Isso é mau, será que não viveríamos melhor sem pensar nisso o tempo inteiro.

Quando estou contente, na esperança de ser feliz, sem nem saber que já estou sendo, sou brincalhona se estou à vontade.






Simples bossa



Sentimento puro,
pensamento puro,

prosperidade e cura,
cura e prosperidade,

nem sempre a ordem dos fatores
altera o sentido,

nem sempre quem possui o meio
tem poder para usá-lo,

cada um é o que é,

o exercício é estar aqui,
sem temor para o bem,
o mal,
a divina adequação
às pedras rolantes.





foto g secchin


Muito me chocou a morte violenta da juíza Patrícia Acioli em 11 de agosto de 2011. Conheci Patrícia na universidade, éramos da turma do segundo semestre de 1982 da UERJ, a lembrança que tenho é de uma aluna participativa e brilhante.  Cheguei a ouvir comentários de sua ousadia, chegaram a usar a palavra loucura em relação à sua coragem ao combater as milícias e grupos de extermínio. Mas é essa “radicalidade” para a apuração e aplicação da justiça que poderia fazer mudar tudo. O melhor artigo que li sobre a brutalidade do fato foi do advogado Técio Lins e Silva, “se a juíza assassinada falasse”, publicado em O Globo em 16/09/2011, antes da prisão dos envolvidos.



Título: Eu sei que vou te amar, de Vinicius de Moraes e Tom Jobim