Ouça
Não se
meta,
tenha meta,
não uma
seta giratória
que atira
pra qualquer lado,
uma metalinguagem.
Músculo Heterodoxo
Debilitei
aquela
parte muscular
correspondente
ao heterodoxo,
menosprezada
pelo paradoxo,
esgarçada
pelo espanto.
A sorte é
que pulmões
e coração
respiram e
pulsam harmoniosamente,
aguentam
cavar na lama.
Quando o
pescoço dói,
descansam.
O Grilo Da Primavera Aborda A Questão Da Negritude
Tocava meus
sons totalmente sozinho;
não sabia
de alguém mais
com quem
pudesse tocar.
Certo, os
sons eram tristes–
mas doces,
também, e não surgiriam
até que o
dia fosse embora. Você sabe
aquele
jeito que o céu tem de pendurar
suas
últimas nuvens luminosas? É quando
a dor iria
aflorar dentro
até que eu
não pudesse esperar; me ajoelhei
para roçar-me limpo
e não me
importei que escutassem.
Então
vieram os gritos e os assobios,
um encurralar
em potes, um escalar de pernas.
Agora
haviam outros: tombados,
nublados.
Eu não sabia seus nomes.
Éramos um
brinquedo musical;
crianças
dormiam sob nossos ásperos suspiros.
E se de vez
em quando um de nós
sacudisse
livre e se enganchasse enquanto subia
até a
borda, ele iria sempre
cair de
novo. O que os fazia rir
e bater
palmas. Então pelo menos
sabíamos o
que os agradava
e onde o
abismo estava.
The Spring Cricket Considers The
Question Of Negritude
I was
playing my tunes all by myself;
I didn’t
know anybody else
who could
play along
Sure, the
tunes were sad–
but sweet,
too, and would’t come
until the
day gave out. You know
that way
the sky has of dangling
her last
bright wisps? That’s when
the ache
would bloom inside
until I
couldn’t wait; I knelt down
to
scrape myself clean
and didn’t
care who heard.
Then came
the shouts and whistles,
the
roundup into jars, a clamber of legs.
Now there
were others: tumbled,
clouded. I
dind’t know their names.
We were a
musical lantern;
children
slept to our rasping sighs.
And if now
and then one of us
shook free
and snag as he climbed
to the
brim, he would always
fall again.
Which made them laugh
and clap
their hands. At least then
we knew
what pleased them,
and where
the brinck was.
Poema de Rita Dove publicado na revista New
Yorker de 27/02/2012, tradução Solange Casotti
autorretrato, jeanne hébuterne
Quando a ciência
descobre algo que muda toda a concepção do que pode existir em termos de vida
na face da Terra, pensamos: quantos estudos e teorias serão obrigados a rever
seus conceitos, as bases mudaram. E
foi isso o que aconteceu, no ano passado descobriram uma bactéria num lago na
Califórnia que contém arsênico em sua composição química. “Até a descoberta desse
microorganismo, se achava que toda a vida conhecida na Terra, da maior das
baleias à menor das amebas, tinha como base os mesmos seis elementos – carbono,
oxigênio, hidrogênio, nitrogênio, enxofre e fósforo.(...) Nossa descoberta é
uma lembrança de que a vida como
conhecemos pode ser mais flexível do
que presumimos ou podemos imaginar.” (O
Globo, 3/12/2011)
O poema é
A liberdade
Um poema
não se programa
Porém a disciplina
–Sílaba por
sílaba –
O acompanha
Sílaba por
sílaba
O poema
emerge
– Como se
os deuses os dessem
O fazemos
Liberdade, poema de Sofia de Mello Breyner,
publicado em Poemas Escolhidos, Seleção de Vilma Arêas, Editora Companhia das Letras, 2004
Livre Jogo
d’après Pedro Duarte
Também o
amor,
além da
arte,
proporciona
tal experiência
que ao
invés de exigir: saia,
nos impele
a entrar.
Ouça, Músculo Heterodoxo e Livre Jogo são poema inéditos
Título: De Noite na Cama de Caetano Veloso
Pedro
Duarte é doutor em filosofia pela PUC- RJ e publicou o livro Estio do Tempo: Romantismo e estética moderna, Editora Zahar, 2011