segunda-feira, 30 de junho de 2014

tô ensaboando




fiz uma rosa contemporânea
com um compasso

não cheira
nem sonho com ela

fiz um sonho com duas linhas
mas não acordo
nem sinto os olhos

fiz um quadrado
com a rosa dentro
nas duas linhas

e estava escrito meu desalento



poema de Fernando Lemos publicado em Fernando Lemos Percurso, Editora Bei, 2010




Substantivo e Verbo


                                             para mim o desenho se liga ao pensamento 
assim como a cor se liga à sensação
                                                                                                                    Richard Serra


ver
pensar
sentir
desenhar
articular
se perder
colorir
confrontar
delinear
gravidade
criar
serendipidade
platôs
passagens


Substantivo e Verbo é um poema inédito 





foto gsecchin








Do sentido à palavra,
da luz ao trovão,
da garganta seca
à metafísica da voz,

o corpo fluía na sequência,
amava no presente amor
não sei se puro, sagrado ou certo
não sei se certeza alguma,

aprendia como respirar,
liquefazendo a loucura
da polaridade do self
ao centro da cabeça.

É claro que só depois articulava,
e em meio a tantos retratos gritava:
Selfi-se quem puder!
Fodam-se para sempre!








foto gsecchin




O Cemitério de Praga


 

Ressonâncias de um canto de rua
de todas as idades.
Entre cidade alta e cidade baixa
As flores desabrochadas de crocus, malvas em sua passagem,
pensam ainda no seio do sol –
Quantas imagens se apressam em cavar seus passos, revestir as
calçadas,
de pergaminhos silenciosos

Pedras
Pedras são rostos
Rostos
São pedras
Pedrasrostos cinza amarelados
Desmoronados
Face ao sol, face a chuva
A súplica emudecida, a espera ratificada
Ruas
Ruas, são pedras
Pedras Rostos Ruas
São caminhos que mentem
Em promessas que se calam,
em sangue em poeira
que perduram




Poema de Penelope Galley traduzido por Solange Casotti


Le Cimetière de Prague





Résonances d’un coin de rue,
de tous les âges
Entre ville haute et ville basse
Les fleurs écloses de colchique, mauves de leurs trépas,
pensent encore au sein du soleil —
Que d’images s’em pressent pour creuser leurs pas, joncher les pavées
de parchemins silencieux
Pierres
Pierres, ce sont des visages

Visages
Ce sont des pierres
PierresVisages gris jaunes
Effritées
Face au soleil, face aux pluies 
La supplication muette, l’attente entérinée
Rues
Rues, ce sont les pierres
Pierres Visages Rues
Ce sont des chemins qui mentent
Des espoirs qui se taisent,
des saignées de poussière
qui perdurent

Poema de Penelope Galley


título: Ensaboa de Cartola