fiz uma
rosa contemporânea
com um
compasso
não cheira
nem sonho
com ela
fiz um
sonho com duas linhas
mas não
acordo
nem sinto
os olhos
fiz um
quadrado
com a rosa
dentro
nas duas
linhas
e estava
escrito meu desalento
poema de
Fernando Lemos publicado em Fernando Lemos Percurso, Editora Bei, 2010
Substantivo e Verbo
para mim o desenho se liga ao pensamento
assim como a cor se liga à sensação
Richard Serra
ver
pensar
sentir
desenhar
articular
se perder
colorir
confrontar
delinear
gravidade
criar
serendipidade
platôs
passagens
Substantivo e Verbo é um poema inédito
foto gsecchin
Do sentido
à palavra,
da luz ao
trovão,
da garganta
seca
à
metafísica da voz,
o corpo fluía
na sequência,
amava no
presente amor
não sei se
puro, sagrado ou certo
não sei se certeza
alguma,
aprendia
como respirar,
liquefazendo
a loucura
da polaridade
do self
ao centro
da cabeça.
É claro que
só depois articulava,
e em meio a
tantos retratos gritava:
Selfi-se
quem puder!
Fodam-se
para sempre!
foto gsecchin
O Cemitério de Praga
Ressonâncias de um canto de rua
de todas as idades.
Entre cidade alta e cidade baixa
As flores desabrochadas de crocus, malvas em sua
passagem,
pensam ainda no seio do sol –
Quantas imagens se apressam em cavar seus passos,
revestir as
calçadas,
de pergaminhos silenciosos
Pedras
Pedras são rostos
Rostos
São pedras
Pedrasrostos cinza amarelados
Desmoronados
Face ao sol, face a chuva
A súplica emudecida, a espera ratificada
Ruas
Ruas, são pedras
Pedras Rostos Ruas
São caminhos que mentem
Em promessas que se calam,
em sangue em poeira
que perduram
Poema de
Penelope Galley traduzido por Solange Casotti
Résonances d’un coin de rue,
de tous les âges
Entre ville haute et ville basse
Les fleurs écloses de colchique, mauves de leurs
trépas,
pensent encore au sein du soleil —
Que d’images s’em pressent pour creuser leurs pas,
joncher les pavées
de parchemins silencieux
Pierres
Pierres, ce sont des visages
Visages
Ce sont des pierres
PierresVisages gris jaunes
Effritées
Face au soleil, face aux pluies
La supplication muette, l’attente entérinée
Rues
Rues, ce sont les pierres
Pierres Visages Rues
Ce sont des chemins qui mentent
Des espoirs qui se taisent,
des saignées de poussière
qui perdurent
Poema de
Penelope Galley
título: Ensaboa de Cartola