Já não sou
poeta e não posso exprimir o que é inexprimível; com
palavras vazias posso dizer que durante esses três dias, não vivi, ao que
parece, no presente, mas sim nas lembranças daqueles dois anos, cujo a cor e o
perfume eu perdera tão irreparavelmente quanto um morto a sua existência.
Assim, ia
eu pensando em mágoas já não existentes e no fundo das quais só então
descobria, tudo o que há de deslumbrante e mortalmente belo na vida, aquela
plenitude do ser, da qual um minuto justifica milhões de anos passados,
revelando o sentido do vazio e do caos: a fé em mim mesmo.
Karinthy
Frigyes.
Olhar de
frente.
Compreender
a questão de fundo,
compreender
a impossibilidade de pular
sobre a própria
sombra.
Seleção
natural
passa pela
artificial
e vice-versa.
É
impossível minimizar
a
imprevisibilidade,
assim como
é impossível a ideia
de sair de si mesmo.
Na catarse
você é tudo.
O final não
é poético.
Salto é um poema inédito
Como não
cair na cilada da homogeneização? O que é a vida se não diversidade biológica,
por que o tempo não volta para atrás, por que não se separam meios líquidos, a
vida depende da diversidade, de um fluxo contínuo de nascimento, não de desenvolvimento
nesses termos estabelecidos por máfias de sementes monopolizadas.
De uma
diversidade de mais 250.000 espécies de plantas, a vida humana hoje depende de 12 espécies
cultivadas e 5 espécies animais. A erosão genética, na qual se perderam
inúmeras espécies é um perigo para a
segurança alimentar. Não bastam bancos de genoplasma, depósitos de sementes
para conservar variedades, quando as próprias mudanças na terra e no clima
provocam uma seleção.
Os índios
costumam cultivar três roçados em diferentes estágios de plantio. Quando
queimam um antigo roçado, brotam sementes de variadas espécies de mandioca, é proibido jogar fora qualquer maniva,
mantendo assim uma variedade. As índias tem orgulho dessa diversidade de
mandiocas. Sementes adormecidas da mandioca só germinam com o fogo. Por isso
quando as mulheres indígenas vão roçar e queimar uma antiga área de plantio, as
sementes adormecidas nascem.
Índios
deambulam
Tupi or not
tupi
Artistas
fermentam
II
Orquídea botão
Persianas divisórias
Não separam dores
III
Em livre arbítrio
Verde claro sentimento
Estação escolha
TRIO, haicais inéditos
Título “ no
tabuleiro da baiana” de Ary Barroso
Karinthy Frigyes escritor húngaro, traduzido por
Paulo Ronai, esse trecho
faz parte da peça “Dois Expressos e uma Parada" de Luisa Friese e Liliane
Rovaris.
O texto
acima é parte de anotações realizadas em uma palestra antropóloga Manuela Carneiro da Cunha no Parque
Lage em 20 de março de 2015.