segunda-feira, 11 de maio de 2015

se eu pedir você me dá o seu coração




Já não sou poeta e não posso exprimir o que é inexprimível; com palavras vazias posso dizer que durante esses três dias, não vivi, ao que parece, no presente, mas sim nas lembranças daqueles dois anos, cujo a cor e o perfume eu perdera tão irreparavelmente quanto um morto a sua existência.

Assim, ia eu pensando em mágoas já não existentes e no fundo das quais só então descobria, tudo o que há de deslumbrante e mortalmente belo na vida, aquela plenitude do ser, da qual um minuto justifica milhões de anos passados, revelando o sentido do vazio e do caos: a fé em mim mesmo.
Karinthy Frigyes.





 foto solange casotti

  




Olhar de frente.
Compreender a questão de fundo,
compreender a impossibilidade de pular
                           sobre a própria sombra.

Seleção natural
passa pela artificial
e vice-versa.

É impossível minimizar
                                    a imprevisibilidade,
assim como é impossível a ideia
                           de sair de si mesmo.

Na catarse você é tudo.

O final não é poético.


Salto é um poema inédito





  foto solange casotti




Como não cair na cilada da homogeneização? O que é a vida se não diversidade biológica, por que o tempo não volta para atrás, por que não se separam meios líquidos, a vida depende da diversidade, de um fluxo contínuo de nascimento, não de desenvolvimento nesses termos estabelecidos por máfias de sementes monopolizadas.

De uma diversidade de mais 250.000 espécies de plantas,  a vida humana hoje depende de 12 espécies cultivadas e 5 espécies animais. A erosão genética, na qual se perderam inúmeras espécies é um perigo para  a segurança alimentar. Não bastam bancos de genoplasma, depósitos de sementes para conservar variedades, quando as próprias mudanças na terra e no clima provocam uma seleção.

Os índios costumam cultivar três roçados em diferentes estágios de plantio. Quando queimam um antigo roçado, brotam sementes de variadas espécies de mandioca,  é proibido jogar fora qualquer maniva, mantendo assim uma variedade. As índias tem orgulho dessa diversidade de mandiocas. Sementes adormecidas da mandioca só germinam com o fogo. Por isso quando as mulheres indígenas vão roçar e queimar uma antiga área de plantio, as sementes adormecidas nascem. 




Índios deambulam
Tupi or not tupi
Artistas fermentam


II


Orquídea botão
Persianas divisórias
Não separam dores



III


Em livre arbítrio
Verde claro sentimento
Estação escolha



TRIO, haicais inéditos




Título “ no tabuleiro da baiana” de Ary Barroso

Karinthy Frigyes escritor húngaro, traduzido por Paulo Ronai, esse trecho faz parte da peça “Dois Expressos e uma Parada" de Luisa Friese e Liliane Rovaris.

O texto acima é parte de anotações realizadas em uma palestra antropóloga  Manuela Carneiro da Cunha no Parque Lage em 20 de março de 2015.