Estávamos a caminho da locadora para alugar um DVD, quando Antonio, na época com uns 6 anos, virou-se para mim e disse assim: às vezes parece que a vida é um filme, às vezes parece que a vida é um jogo.
Outro dia, caí num blog através do twitter, o sujeito (não lembro o nome) dizia assim: não há a menor diferença entre ficção e realidade.
É possível pensar algo novo? Essa é uma das principais questões colocadas no ciclo Mutações: a experiência do pensamento organizado por Adauto Novaes que está acontecendo desde agosto no Rio de Janeiro, em São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. Do qual faz parte uma dezena de pensadores contemporâneos de diferentes partes do Brasil (Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro) e outros franceses. Cito aqui dois professores e ensaistas que participam desse ciclo.
“Uma razão está ousando perguntar o que ela não pode responder.”
José Miguel Wisnik
“Uma tarefa desafiadora é nos desembaraçarmos do sagrado, uma profanação que ousa pensar.”
Oswaldo Giacoia Jr.
foto Marcos Morteira
Durante um processo de terapia, me dei conta de que a veracidade de certas passagens da infância não tem a menor importância. Entretanto, a maneira como vivenciamos o episódio, o sentimento, os resquícios deixados em minha memória, esses sim, seriam preciosos, mesmo que, imprecisa a realidade.
Lendo a Revista Simples (nº 26/ 2004), encontrei um texto do músico Rodrigo Amarante intitulado: “A vida é um filme inverossímil”.
“engraçado como às vezes temos a sensação de que determinado momento que vivemos parece ter saído de um filme ou alguma ficção(...) Porque, ao contrário das ficções que geralmente se apresentam, a realidade é por demais inverossímil. Mas essa inverossimilhança não é a dos superpoderes, supervontades ou a da lógica dos acontecimentos. É a dos sentidos. Verossímil é aquilo que parece ser verdade, e isso a realidade jamais nos garantiu.
“ (...) A realidade é inconclusa, e por isso só a poesia e suas lacunas é capaz de a espelhar.”
“A arte é um atalho para os oráculos da vida. Na poesia buscamos sentido porque acreditamos haver algum. Eis o que deveríamos fazer em relação à vida.”
foto Marcos Morteira
sobre e para Slavoj Zizek
Existe progresso no movimento repetitivo?
Descer todo o caminho de volta
até o ponto de partida,
nem que se seja para escolher outro caminho.
Porque às vezes fica difícil o pé firme e a lucidez;
força para começar do começo.
Quem é o sujeito dessa revolução sem nome?
Que tal reconhecê-lo onde se agita,
capaz de reagir às contradições reais?
Desconstruir é alimentar a impossibilidade do sonho?
Aceitar uma fórmula menos pior,
não garante a liberdade.
“Parte de parte alguma”,
quem não percebe não corrige,
quem ama cuida.
“A ameaça é sermos reduzidos a um sujeito cartesiano abstrato e vazio, privado de todo o nosso conteúdo simbólico, com nossa base genética manipulada, vegetando num meio ambiente inabitável.” **
“ninguém foi ao seu quarto quando escureceu”...
* Título e final, Ska, Paralamas do Sucesso “
** A hipótese comunista, Slavoj Zizek, Revista Piauí, n 34/ julho, 2009