terça-feira, 5 de julho de 2011

um vento bateu dentro de mim




O mundo cercado
e o mundo aberto
da minha visão
tornam-se realidade corpórea,
é assim que funciona o cérebro-ponte.

A miopia se estende
para além da solidão dos campos de algodão.

Tiro os óculos,
o mundo se restringe
à segurança do cercadinho,
à densidade da aura.

Sempre seremos um pouco inexperientes.


A Ponte de Ouro é um poema inédito.


 foto Lars Marcussen




Todo mundo conhece a história do patinho feio dos contos de Andersen. Conheci Odense na Dinamarca, a cidade de Hans Christian Andersen e resolvi ler o “O Patinho Feio” num livro antigo da coleção “O Mundo Encantado de Andersen”. Nessa edição de 1968 da Editorial Martins Gomes S. A., traduzido por Octávio de Vasconcelos, o autor chama-se João Cristiano Andersen. Felizmente caiu em desuso no Brasil essa prática de traduzir o nome do autor.

Estranho, assim me pareceu a seguinte passagem do livro: “(...) é homem e assim a feiura não tem importância. Creio que será bem forte quando crescer. (...) Todos ficaram à vontade. Mas o pobre patinho feio, nascido por último, era bicado, empurrado e escarnecido. Não só os patos, mas também as galinhas o maltratavam.” Nota-se, desde o começo, que a mãe o acolhe, o problema é o entorno. A história é cheia de peripécias e bons valores, e depois, a natureza é muito generosa com o bichinho. Ao final, conclui: trata-se de um caso de bullying.

Em 07/04/2011, Wellington Menezes de Oliveira de 23 anos provocou o massacre de 12 crianças e feriu mais 12 numa escola municipal no bairro de Realengo, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. Como será que era o entorno do aluno Wellington, ex-estudante dessa escola? Reescrevo aqui as palavras do psicanalista Paulo Becker em artigo publicado em O Globo*: “A monstruosidade tem tudo a ver conosco. O professor recebe o esgoto bruto da violência, sem mediações. Os seus vencimentos e a estrutura das escolas são inqualificáveis. O livre comércio de armas fomenta o monstro. A concepção segregacionista do mundo também. Não querer saber disso é apostar no imobilismo: neste ambiente, a loucura repetirá sua tentativa paradoxal de redenção.”


 foto lars marcussen




foto lars marcussen




Telegrama para além




O império da eficácia extermina a espontaneidade,
perde-se a capacidade de transmutação
inclusive dos significados,
dá-se o engessamento dos sentidos,
inclusive a obstrução de hipóteses,
uma tragédia para o destino.

Enquanto a polaridade,
lateralidade plural,
nos responsabiliza,
não só pelo teto,
mas pelo afeto
em termos bem mais vastos,
para além das perturbações egoicas, solitárias,
para além da ancestralidade, do embrião,
para além das futuras gerações.

Telegrama para além é um poema inédito



Título: Mistérios de Joyce e Mauricio Maestro


*Paulo Becker é integrante do Núcleo de Psicose e Autismo da Escola Letra 
Freudiana. Em O Globo, 30 de julho de 2011.

Lars Marcussen é artista plástico e vive em Odense, Dinamarca