segunda-feira, 18 de abril de 2011

besta é tu! besta é tu!



Quanto tempo dura uma informação,
quantas não se sustentam?
Milhares de opiniões...

O tempo reafirma o efêmero estonteante,
o giro: “lá em cima está o tiro-liro-lito
cá em baixo está o tiro-liro-ló”.

Um engodo foi descoberto,
outros nunca o são.
Então...
vai ficar por isso mesmo?
“Tomai e comei todos vós”.

Podemos levar o pão para a mesa?



                                                  foto maritza caneca



Os mecanismos de direitos autorais estão em pauta com as novas mudanças na lei brasileira. O assunto vem sendo discutido com muita disparidade de opiniões. Sabemos que o que pode ser usurpado livremente no campo das idéias, é. Mas, garantir uma remuneração nessa área, teria como intuito procurar mudar um estado de exploração que faz parte do mundo. Em entrevista ao Jornal o Globo, publicada no Prosa Verso (05/03/2011), o autor Lewis Hyde declarou: “(...) Assumindo que existe uma verdadeira incongruência entre ganhar a vida e fazer arte, muitos artistas escolhem uma vida de pobreza voluntária. Vivem com pouco  e constroem sua obra. Em segundo lugar, há sociedades que reconhecem o problema e apóiam os artistas de maneiras não–mercadológicas. O patronato era uma forma arcaica desse tipo de apoio, e hoje temos fundações privadas e bolsas públicas. Em terceiro lugar, muitos artistas têm um segundo emprego, removendo da arte o fardo de ter que pagar suas contas. Até ensinar a própria arte é uma espécie de segundo emprego (eu mesmo ensino escrita, o que não é a mesma coisa que escrever). Por fim, existem aqueles poucos felizardos que vivem diretamente de seu trabalho, romancistas, pintores e dramaturgos de sucesso. Bravo para eles.”

Uma semana após a publicação daquela entrevista, ao final de seu artigo intitulado “Pão e Circo com direitos” no qual critica o autor acima citado, Cacá Diegues, escreveu: “Anos atrás, em um dos meus filmes, “Um trem para as estrelas”, fiz um personagem popular, interpretado pelo grande Zé Trindade, dizer a um jovem músico que começava sua carreira: “Não se esqueça meu filho, quem precisa de arte é o público, artista precisa é de dinheiro.” O que significa mais ou menos que, assim como quem dá o pão precisa ser remunerado, quem dá o circo não pode morrer de fome. A nobreza da arte que não cobra pela sua produção é um malicioso golpe dos poderosos, a fim de manter os artistas dependentes do rei e portanto incapazes de dizer se Sua Majestade está nu.”






foto g secchin




Em tempo: outro dia me deparei com a seguinte notícia: “a indústria farmacêutica teria ajudado a inventar doença para vender tratamentos”. Sabe qual a doença que tentaram inventar? Uma disfunção sexual feminina. Queriam criar uma pílula “rosinha” que poderia fazê-los faturar bilhões. Quem sabe ainda vão conseguir? Daqui a pouco, nas melhores casas do ramo, mesmo que com graves efeitos colaterais, ou ainda, tratando-se de placebo: “a droga do desejo”.

Você sabia? Somente no Estado do Rio de Janeiro, a cada 2 horas uma mulher é estuprada. O horror!




foto maritza caneca



O que vocês não sabem nem imaginam


Vocês não sabem
mas todas as manhãs me preparo
para ser, de novo, aquele homem.
Arrumo as aflições, as carências,
as poucas alegrias do que ainda sou capaz de rir,
o vinagre para as mágoas
e o cansaço que usarei
mais para o fim da tarde.

À hora de costume,
estou no meu respeitoso emprego:
o de Secretário de Informação e de Relações Públicas.
Aturo pacientemente os colegas,
felizes em seus ostentosos cargos,
em suas mesas repletas de ofícios,
os ares importantes dos chefes
meticulosamente empacotados em seus fatos,
a lenta e indiferente preguiça do tempo.

Todas as manhãs tudo se repete.
O poeta Eduardo White se despede de mim
à porta de casa,
agradece-me o esforço que é mantê-lo
alimentado, vestido e bebido
(ele sem mover palha)
me lembra o pão que devo trazer,
os rebuçados para prendar o Sandro,
o sorriso luzidio e feliz para a Olga,
e alguma disposição da que me reste
para os amigos que, mais logo,
possam eventualmente aparecer.

Depois, ao fim da tarde,
já com as obrigações cumpridas,
rumo a casa.
À porta me esperam,
a mulher, o filho, o poeta.
A todos cumprimento de igual modo.


Um largo sorriso no rosto,
um expresso cansaço nos olhos,
para que de mim se apiedem
e se esmerem no respeito,
e aquele costumeiro morro de fome.

Então à mesa, religiosamente comemos os quatro
o jantar de três
(que o poeta inconsta
na ficha do agregado).

Fingidamente satisfeito ensaio
um largo bocejo
e do homem me dispo.
Chamo pela Olga para que o pendure,
junto ao resto da roupa,
com aquele jeito que só ela tem
de o encabidar sem o amarrotar.

O poeta, visto-o depois
e é com ele que amo
escrevo versos
e faço filhos.


Poema de Eduardo White, publicado em Antologia da Nova Poesia Moçambicana – 1975/1988 publicado pela Associação dos Escritores Moçambicanos.

Lewis Hyde, publicou A Dádiva, como o espírito criativo transforma, Ed. Civilização Brasileira, 2010

Cacá Diegues, diretor de cinema, com mais de 20 longas metragens. http://www.carlosdiegues.com.br/

Titulo: Besta é tu, de Galvão, Pepeu Gomes e Morais Moreira.


2 comentários:

  1. Oh Xente, me senti uma besta....Muito Bom !!!
    Bjs

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  2. Os bestas mais assustadores sao esses Bestas (com B maiusculo) das industrias farmaceuticas. Nos estamos lah precisando de pilulas rosinhas??? Como sempre, Tutu, seu blog eh um diiiilicia!!!Bjs

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