terça-feira, 24 de julho de 2012

quem me dera agora eu tivesse a viola pra cantar





Solar



Confidências
trocam de lugar
com o não dito,
desviam para a verdade.

Não é simples
não se deixar cegar.

Magnífica ressonância:
ler sentimentos.

  

foto G Secchin




“ Se não se espera, não se encontra o inesperado, sendo sem caminho de encontro nem vias de acesso.” Heráclito



Quando falavam em Nova Era, diziam que as mudanças não seriam bruscas, nem catastróficas, além das costumeiras tragédias: públicas, privadas, naturais e humanas. Me lembro de ouvir falar em transparência, verdades que vem à tona...

Finalmente entrou em vigor a lei de acesso à informação, que obriga cada órgão público a publicar em sua página na internet informações sobre atuação como contratos, licitações, gastos com obras, repasses ou transferências de recursos. Apesar da resistência dos magistrados à referida lei, estou torcendo para que a mesma possa corresponder a algum avanço no que diz respeito às políticas públicas.

A abertura dos arquivos da Ditadura Militar é outra novidade em termos de transparência no país. Dar vida ao passado pode nos ajudar a resistir ao autoritarismo presente.


Ele não sabia que era impossível. Foi lá e fez.
Jean Cocteau





Verbo


Cada vez que exprimo,
toda vez que espremo
a parte ínfima da música que ouço,
a fonte íntima do ritmo que sinto,
gole calado no romper do escuro,
gesto tímido de pele úmida,
desilusão de noite acuada,
evolução de morte marcada,
contramão, leste do abrigo
do umbigo amiguinho.


Poema publicado em Ventanias, ed. Sete Letras, 1997



Existe um rumo que as palavras tomam
como se mão alguma as desenhasse
na branca expectativa do papel


porém seguissem pura e simplesmente
a música das coisas e dos nomes
o canto irrecusável do real.


E nessa trajetória inesperada
a carne faz-se verbo em cada esquina
resolve-se completa em tinta e sílaba
em súbitas lufadas de sentido.


Você de longe assiste ao espetáculo.
Não reconhece os fogos de artifício,
as notas que ainda engasgam seus ouvidos.
Porém você relê. E diz: é isso.

Sete Estudos para a Mão Esquerda, I, poema de Paulo Henriques Britto publicado em Trovar Claro, Ed. Companhia da Letras, 1997


  

foto  G Secchin




Não serei o poeta de um mundo caduco. 

Também não cantarei o mundo futuro. 

Estou preso à vida e olho meus companheiros 

Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. 

Entre eles, considere a enorme realidade. 

O presente é tão grande, não nos afastemos. 

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. 


Não serei o cantor de uma mulher, de uma história. 

Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela. 

Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para as ilhas, nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.


Mãos Dadas, Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do Mundo, Editora Record, 2001.

Título: Ponteio de Edu Lobo

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