terça-feira, 30 de outubro de 2012

todo dia era dia de índio




O Medo do Acaso
                  d’après Newton Bignotto




Impermanência,
angústia estrutural,
fios intencionais,

Imagens vazias
valendo mais que boas ideias.

Só o mensurável pode “estar sendo” gerenciado,
quanta coisa escapa...

Controle –
ilusão de que é possível
se livrar do acaso.

A natureza é inquietante,
nem tudo pode ser submetido à geometria.

Impossível extirpar:
tristezas, exitações, dúvidas.

A arte ama o acaso.
O acaso ama a arte.




foto solange casotti



Queria falar da casca, das couraças, daquela coisa que está logo abaixo das fáscias e da pele que habito. Não quero o abrupto, a violência implícita ou explícita.  O escondido que não me fala, gole calado no escuro...

A virtude de esquecer abre novos caminhos... A virtude de lembrar aumenta a percepção. De que vale ser feliz por um momento e carregar ressentimento? O que vale mais: consciência ou reputação? No mercado do valor: tanta coisa importante e inútil, impossíveis de quantificar.

Quando a essência não desagarra da existência, soluções viáveis nascem aos poucos. Alteram o sentido. Sem constrangimento, por favor! Não despiste o óbvio. O que desencadeia, nem sempre é breve. Portas abertas ao campo!



Cores vivas,
passeios Pina Bausch,
verdades detonadas
em corpos musicais.

Tomar partido.
Cuidados podem fazer jus...
Livrar o acaso.

Choradeira doida doída,
britadeira deflagrando culpas,
solapada por infantilidades e volúpias.

Parar de acusar o todo
e o tempo,
parar de não achar merecer,

Para além dos fatos,
não existe método ou rima,
metafísica do espaço.



foto solange casotti



Consciência Cósmica




Já não preciso de rir.
Os dedos longos do medo
largaram minha fronte.
E as vagas do sofrimento me arrastaram
para o centro do remoinho da grande força,
que agora flui, feroz, dentro e fora de mim...

Já não tenho medo de escalar os cismos
onde o ar limpo e fino pesa para fora,
e nem deixar escorrer a força dos meus músculos,
e deitar-me na lama, o pensamento opiado...

Deixo que o inevitável dance, ao meu redor,
a dança das espadas de todos os momentos.
E deveria rir, se me restasse o riso,
das tormentas que pouparam as furnas da minha alma,
dos desastres que erraram o alvo do meu corpo...

Poema de Guimarães Rosa publicado em Magma, Editora Nova Fronteira,1997




foto solange casotti



Pacto irrenunciável com o território Os guarani e os kaiowá têm conexão direta com os territórios específicos, consideram-se uma família só, dado que o território é visto por estes indígenas como humano. Eles possuem um forte sentimento religioso de pertencimento ao território, fundamentado em termos cosmológicos, sob a compreensão religiosa de que foram destinados, em sua origem como humanidade, a viver, usufruir e cuidar deste lugar, de modo recíproco e mútuo. Portanto, eles podem até morrer para salvar a terra. Há um compromisso irrenunciável entre os guarani e kaiowá e o guardião/protetor da terra, há um pacto de diálogo e apoio recíproco e mútuo: os guarani e kaiowá protegem e gerenciam os recursos da terra e, por sua vez, o guardião da terra vigia e nutre os guarani e kaiowá. 
Tonico Benites, guarani-kaiowá, mestre e doutorando em Antropologia Social pela UFRJ 


O poema inédito "O Medo do Acaso" foi feito a partir da conferência proferida por  Newton Bignotto em 03/10/2012 no ciclo o futuro não é mais o que era.

Título: Todo Dia era Dia de Índio de Baby Consuelo



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