O Medo do Acaso
d’après Newton Bignotto
Impermanência,
angústia
estrutural,
fios
intencionais,
Imagens
vazias
valendo
mais que boas ideias.
Só o
mensurável pode “estar sendo” gerenciado,
quanta
coisa escapa...
Controle –
ilusão de
que é possível
se livrar
do acaso.
A natureza
é inquietante,
nem tudo
pode ser submetido à geometria.
Impossível
extirpar:
tristezas,
exitações, dúvidas.
A arte ama
o acaso.
O acaso ama
a arte.
Queria
falar da casca, das couraças, daquela coisa que está logo abaixo das fáscias e
da pele que habito. Não quero o abrupto, a violência implícita ou
explícita. O escondido que não me fala,
gole calado no escuro...
A virtude
de esquecer abre novos caminhos... A virtude de lembrar aumenta a percepção. De
que vale ser feliz por um momento e carregar ressentimento? O que vale mais:
consciência ou reputação? No mercado do valor: tanta coisa importante e inútil,
impossíveis de quantificar.
Quando a
essência não desagarra da existência, soluções viáveis nascem aos poucos.
Alteram o sentido. Sem constrangimento, por favor! Não despiste o óbvio. O que
desencadeia, nem sempre é breve. Portas abertas ao campo!
Cores vivas,
passeios Pina
Bausch,
verdades detonadas
em corpos
musicais.
Tomar
partido.
Cuidados podem fazer jus...
Livrar o
acaso.
Choradeira
doida doída,
britadeira
deflagrando culpas,
solapada por infantilidades e volúpias.
Parar de
acusar o todo
e o tempo,
parar de
não achar merecer,
Para além dos fatos,
não existe
método ou rima,
metafísica
do espaço.
foto solange casotti
Consciência Cósmica
Já não preciso de rir.
Os dedos
longos do medo
largaram
minha fronte.
E as vagas
do sofrimento me arrastaram
para o
centro do remoinho da grande força,
que agora
flui, feroz, dentro e fora de mim...
Já não
tenho medo de escalar os cismos
onde o ar
limpo e fino pesa para fora,
e nem
deixar escorrer a força dos meus músculos,
e deitar-me
na lama, o pensamento opiado...
Deixo que o
inevitável dance, ao meu redor,
a dança das
espadas de todos os momentos.
E deveria
rir, se me restasse o riso,
das
tormentas que pouparam as furnas da minha alma,
dos
desastres que erraram o alvo do meu corpo...
Poema de
Guimarães Rosa publicado em Magma, Editora Nova Fronteira,1997
foto solange casotti
Pacto irrenunciável com o território Os guarani e os
kaiowá têm conexão direta com os territórios específicos, consideram-se uma
família só, dado que o território é visto por estes indígenas como humano. Eles
possuem um forte sentimento religioso de pertencimento ao território,
fundamentado em termos cosmológicos, sob a compreensão religiosa de que foram
destinados, em sua origem como humanidade, a viver, usufruir e cuidar deste
lugar, de modo recíproco e mútuo. Portanto, eles podem até morrer para salvar a
terra. Há um compromisso irrenunciável entre os guarani e kaiowá e o
guardião/protetor da terra, há um pacto de diálogo e apoio recíproco e mútuo:
os guarani e kaiowá protegem e gerenciam os recursos da terra e, por sua vez, o
guardião da terra vigia e nutre os guarani e kaiowá.
Tonico Benites, guarani-kaiowá, mestre e doutorando em Antropologia Social pela UFRJ
O poema inédito "O Medo do Acaso" foi feito a partir da conferência proferida por Newton Bignotto em 03/10/2012 no ciclo o futuro não é mais o que era.
Título: Todo Dia era Dia de Índio de Baby Consuelo
Sempre a consciência!
ResponderExcluirVc me surpreende sempre.