quarta-feira, 4 de setembro de 2013

como é bom poder tocar um instrumento




O mundo encharcado de contentamento,
memória, sinapse, invenção,

não sabe soletrar,
mal conhece as letras,
mas sabe o sentido daquele gesto,
fisicamente simples,
afetivamente complexo,
instintivo,
imagético.



Afago é um poema inédito






pintura de g secchin sobre foto de dean northcott






Um objeto


Esta coisa, dotada de codificação e não de coração,

Pôs o conhecimento onde devia estar afetividade

e agora nada

                   lhe altera a meditação.



An Object  


This thing, that has a code and not a core,

Has set acquaintance where migth be affections,

And nothing know
                           Disturbeth his reflections



Poema de Ezra Pound (1875-1972), Antologia da Nova Poesia Norte-Americana, Seleção, Tradução e Notas Jorge Wanderley, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1992





pintura de g secchin sobre foto de dean northcott






Fabrício,



vou contar uma história, História, como você sabe, é a composição de ocorrências, geralmente exatas, gravadas em vida.

Por volta de fevereiro de 1937, ocorria o vestibular para a Faculdade Nacional de Direito do Rio de Janeiro (hoje, a UFRJ). Provas... Examinador, um homem fino – pertencente ao Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores do Brasil) e servindo, interinamente, à Chefia do Gabinete Civil da Presidência da Republica. Sete horas da manhã, prova oral (naquela época tinha prova oral no vestibular) de literatura. Tensão total dos alunos visto as credenciais do examinador. Primeiro a ser chamado, por ordem alfabética, um da letra “A”: “Senhor Fulano, vamos tirar o ponto a ser examinado. O vidro, com os pontos em número de 55, era daqueles de balas – que ao tempo, se encontrava muito nos bares do Rio. O aluno colocou sua mão no interior do recipiente e tirou o ponto. Por incrível que pareça, o primeiro aluno a ser chamado tirou o último dos pontos, o de nº 55.

Instintivamente o examinando olhou para trás, e de frente para os três colegas com os quais estudava para as provas, suspirou junto a eles – só haviam estudado até o ponto 40...

O Examinador olhou para as anotações do ponto sorteado e perguntou: “O que o Senhor entende por Teoria do Desenvolvimento da Humanidade.” O aluno, desconhecedor do assunto, mas vivo, começou: “Suponhamos um círculo, ou melhor, uma bola girando como faz a Terra em sua rotatividade. Os pontos sempre se coincidiriam em igualdade quando da superposição, necessário se fazia que um passo à frente fosse dado antes da coincidência e assim iria se processando uma alteração, sempre no sentido do melhor.” O Examinador interrompeu e perguntou: “De quem é esta Teoria?” O aluno que a esta altura se julgava um Réu ante o Magistrado fino e educado, respondeu: “É minha.” O Examinador, rindo, soltou: “O Senhor não tem medo de ser processado por Worms?.”


O aluno, vivo e sagaz, aproveitou a deixa do sorriso amigo e soltou: “Se Worms, que tanto estudou, apresentou teorias a perder de vista, criou uma literatura vasta sobre diversos assuntos da humanidade, não fez vantagem nenhuma, pois um Réu confesso como eu, criei com um passo à frente uma Teoria ante esta boníssima banca examinadora.”



Fabrício: O passo dado é tudo aquilo que precisamos para nos ajudar e à humanidade também. Firme neste conceito: Não deixe de dar o passo.



Do seu avô,

Adelson Rebello Moreira.


Meu Tio Adelson, era irmão de minha mãe, teve oito filhos com Wandira Campos Moreira, dentre muitas outras coisas, foi um dos sócios fundadores do Yate Clube de Mararataízes e construiu um lar para idosos, que leva seu nome, em sua cidade natal, Cachoeiro de Itapemirim. Essa carta foi escrita para seu neto Fabrício Moreira em 23 de agosto de 1998.



Alguém sabe quem  é esse Worms?

Fiz uma pequena pesquisa e Worms...é a palavra inglesa para vermes e parasitas.


  
título: Tigresa de Caetano Veloso



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