Quem será a moça do telefone vermelho
e do casaco perestroika?
Qual será a sílaba boba que insiste em perturbar?
Quem será o sábio e o ignorante?
Onde estará a pele e a essência,
o estímulo e o orgulho,
a perspectiva e o sonho,
o feijão e a mesa,
o bife?
Para as ciências a contradição não é um lugar onde se
pode ficar à vontade. Nas artes e na linguagem poética, o autor é guardião de
um outro tipo de conhecimento, onde há condições de conjugar diferentes
realidades. Enquanto o espírito científico não aceita analogias e metáforas, o
espírito poético permite preservar a multiplicidade, nele convivem solidão e
comunhão. Ele permite escutar a “outra voz”, deixar que a sua voz seja invadida
por uma outra, aquela que os gregos localizavam numa esfera transcendente e que
pode ser a descoberta da sua própria. A voz alheia sempre continuará sendo algo
que nos desafia. Ser é linguagem – como
o tempo, ela nos constitui, nos atravessa. Será que através dela seria possível
um outro estar no mundo?
foto gsecchin
São 5 anos do blog tectônicas e 7 do livro Tectônicas ( ed. Bem-te-Vi,
Rio de Janeiro, 2007). São mais tantos anos de atividade poética. A grande
diversão de escrever esse blog é que além de publicar o poema mais recente, há um trabalho de edição que também gosto muito. Cada verso do poema abaixo é um
verso de uma canção brasileira de diferentes autores, cada um é um post desse
blog que você está lendo.
verdadeiro ra ra ra
isso aqui ô ô, é um pouquinho de brasil iaiá
quero chorar não tenho lágrimas
no tabuleiro da baiana tem
coisa nº4
esse papo já coisa tá qualquer coisa
que é meu balangadã?
como é bom poder tocar um instrumento
você sabe que a maré não está moleza não
eu quero é botar meu bloco na rua
daqui pra frente, tudo vai ser diferente
me dê motivo
pro dia nacer feliz
não deixe o samba morrer
diz que deu, diz que dá
enquanto eu corria assim eu ia
todo dia era dia de índio
desejo, necessidade, vontade
pneu furou, acenda o farol
quem me dera agora eu tivesse uma viola pra cantar
alguma coisa está fora da ordem
vou me embora desse mundo de ilusão
de noite na cama eu fico pensando
não, não pode mais meu coração
quem é você que não sabe o que diz?
bananeira não sei, bananeira será
o amor, o sorriso e a flor
e cada verso meu será pra te dizer
o tempo rodou num instante
hô-ba-lá-lá
um vento bateu dentro de mim
ah! se o mundo inteiro me pudesse ouvir
besta é tu, besta é tu!
além do horizonte existe um lugar
ziriguidum, ziriguidum, ziriguidum
a sorrir eu pretendo levar a vida
lá vai o trem sem destino
caía a tarde feito um viaduto...
rené magritte
Um exercício poético!
Cinco anos do blog tectônicas!
Quando o blog fez um ano, postei:
título “bim bom” de João Gilberto
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