A moldura se
soltaria em escombros
Na fome de
pescar saída,
somente
clareza,
misturaria hipérboles
em série
conseguindo
liquefazer a loucura.
Base bolsa
estrutura,
mercados
degenerados,
a pasta!
Espere a pasta,
espere,
se alguma
questão plasmar por si mesma,
não duvide,
ela vai
precisar de uma escovação!
Assim, se
tornará premente: calma
em
pensamento.
Rosa choque
Depois que as cores entram pelas unhas,
já não é possível
passear sem elas,
entram na
circulação sanguínea
e esperamos
que sejam abençoadas,
não façam
mal,
escorram
por seus ciclos,
acolham
mutações.
Estações
impõem seus tons,
geadas
máculas sensações,
amadurecimento
tempo gestação.
Se a hora é
de navegar,
já no barco,
quem navega
é o mar.
“não sou eu
quem me navega
quem me
navega é o mar”*
“Dos
sonhos que temos, das coisas que almejamos, depois de um certo tempo percebemos
que não se pode fazer tudo, que alguns sonhos são realizados, muitos não. Você
não lê todos os livros que acumulou na sua biblioteca, mas nem por isso vai
deixar de ler, nem por isso vai deixar de sonhar, de almejar. Isso de uma certa
forma espero que esteja no meu trabalho. A dúvida diante da incerteza não pode
ser derrotista nem negativa, de que realmente não há solução, não tem jeito.
Penso que há momentos de resignação e outros de rebeldia, de não conformismo
com a situação, particular ou não. Mas as coisas passam, as modas, as
propostas, as experiências. Meus sambas tratam da sensação de angustia ou
resignação diante dessa instabilidade da vida, da impossibilidade de falar do
futuro, de ter certeza sobre as coisas. A vida é jogo de xadrez, mas nos escapa
e a resposta natural que o samba dá é deixar-se levar como um marinheiro à
deriva. A vida é tão instável...” Paulinho da Viola
foto Toti Jordam sobre trabalho de Bel Barcellos
UM LANCE DE DADOS
JAMAIS
MESMO ATIRADO EM CIRCUNSTÂNCIAS ETERNAS
DO FUNDO DUM NAUFRÁGIO
PORQUE
o Abismo
Branco
se expõe
furioso
sob uma inclinação
desesperadamente plana
d’ asa
a sua
recaída prévia dum mal de se erguer no voo
cobrindo os
impulsos
cortando
rente os ímpetos
no âmago se resume
a sombra que se afunda nas profundas nessa alternativa vela
para adaptar
a tal envergadura
as suas horríveis profundas como o arcaboiço
duma construção
que balança dum lado
para o outro
O MESTRE
emerge
inferindo
dessa
conflagração
que se
como uma ameaça
o único Número que não pode
hesita
cadáver descartado
em lugar
de jogar
como um velho maníaco
a partida
em nome das marés
um
naufrágio assim
livre dos antigos cálculos
esquecido o manobrar com a
idade
outrora ele
empunhava o leme
a seus pés
num horizonte unânime
prepara
se agita e se envolve
no punho que o ligará
ao destino dos ventos
ser um outro
Espírito
para o Lançar
na tempestade
e redobrar a divisão e passar altivo
pelo braço do segredo que encerra
invadiu o comandante
correndo pela barba submersa
vindo do homem
sem nau
insignificante
onde será vão
ancestralmente abrir ou não a mão
crispada
além duma cabeça inútil
legada em desaparição
a alguém ambíguo
imemorial ulterior demónio
nos seus lugares do nada
induz
o ancião a essa conjunção suprema com a probabilidade
o tal
da sombra pueril
acariciada e polida aparada e lavada
amaciada pela onda e afastada
dos
ossos duros perdidos em bocejos
nascido
dum descuido
jogando o mar por antepassado ou o antepassado contra
o mar
numa sorte
ociosa
São núpcias
da qual a ilusão é uma vela solta obcecada
com o fantasma dum gesto
que oscila até cair
na loucura
Um Lance de Dados Jamais Abolirá o Acaso ( Un Coup de Dés Jamais N'Abolirá Le Hasard) Poema de Stéphane Mallarmé (1842-1898)
Tradução para o português de Armando Silva Carvalho, publicado em "A
Tarde de um Fauno e Um lance de Dados", editora Relógio d’água, Lisboa, Portugal, 2007
título: Eu e a brisa, Johnny Alf
* verso de Timoneiro, música de Paulinho da Viola e Hermínio Belo de Carvalho.
Os trabalhos das fotos são da artista Bel Barcellos
título: Eu e a brisa, Johnny Alf
* verso de Timoneiro, música de Paulinho da Viola e Hermínio Belo de Carvalho.
Os trabalhos das fotos são da artista Bel Barcellos
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