terça-feira, 24 de janeiro de 2012

quem é você que não sabe o que diz?



                             E quanto tempo levou o peludo 
para ter a ideia de botar 
um cabo na pedra? 
Monteiro Lobato     



– Sabe que dia é hoje?
Chegou o dia de são nunca,
acontece que não sou assim
expertise de coisíssima alguma,
à margem de uma margem,
extenuada, exaurida
de humanidades tristes,

só sei de bicicleta,
casas do inconsciente,
a procura da harmonia
num tempo pulverizado
de mitos e medos,

falta o espontâneo...








De um lado, um expressivo avanço tecnológico, de outro, um comportamento completamente ultrapassado e preconceituoso. A obesidade e a fome são problemas de saúde pública, mulheres são punidas com apedrejamento até a morte por crime de adultério. Outras ainda perdem o direito de ir vir somente por expressar suas opiniões. E o maior problema social é a falta de emprego.

Interregno é a palavra escolhida por Zygmunt Bauman – genial pensador do nosso tempo – sobre o período em que estamos vivendo. Pensamento o qual encontro ecos em André Gorz, Michel Deguy e também em Michel Melamed. Afinal, conforme estudado por Lévy-Strauss, “a sinfonia de sentidos” vem desde os povos primitivos, os sintomas e os mitos se repetem. O difícil é mudar o padrão para um comportamento mais saudável, mais democrático, mais justo. Substituir um modelo dominado pela ganância de um mercado que se impõe sem humanidade. Será que perdemos a esperança também? A esperança de um tempo cujo progresso corresponda a um juízo transparente, de modo a fluir para um bem comum.

Desculpem-me o name-dropping do parágrafo anterior. É difícil explicar esse esculacho que vivemos, tentar um maior esclarecimento dessa contemporaneidade cuja interlocução carece de humanização, algo que interfira na tragicidade do momento, uma via laica de salvação. Infelizmente, não temos como não passar pelo legislativo, executivo e judiciário e pelo mercado também. Enfim, quem foi mesmo que disse? “O homem é um animal político”.




Interrompendo o fio
da pretensão,
ousando se desvencilhar
para um amplo campo de visão,
após somatório de perdas
e ganhos,

ciente da irreversibilidade de certas causas,
à procura de uma natureza sábia, que,
como bem disse Armando, também erra.





Título: Palpite infeliz de Noel Rosa

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