segunda-feira, 12 de março de 2012

não, não pode mais meu coração




“Há espíritos para os quais certas imagens conservam um privilégio indestrutível.”
Gaston Bachelar

Nada supera as imagens da natureza,
nada supera a liberdade do artista de reproduzi-las.

“Através de nós alçam voo
 Os pássaros em silêncio. Ó, eu, que quero crescer,
 Olho para fora, e a árvore cresce em mim."          
Rainer Maria Rilke



"No meu quintal tem uma laranjeira
aquela mesma
onde brincamos na noite de Natal
no meu quintal tem um pessegueiro
com flores cor de rosa
onde chupei-te a boca
pensando que era fruta.

no galinheiro tem oito galinhas,
um pato, um ganso e um pinto.

no galinheiro fiz um arranha-céu
com latas de gasolina.
E fiz com paus de vassoura
estacas para os cravos.

meu quintal é uma cidade!...
De frangos, postes, luz e arranha-céu.
E para simbolizar o seu progresso,
desafiando triunfal,
tem a bandeira de uma calça rendada no varal." *
Patrícia Galvão, Pagu





foto maria kikoler



“A vida é uma cereja
 A morte é um caroço
 O amor uma cerejeira.”**
                                  Jacques Prévert



A fruta fugiu de mim,
passei seca,

Na verdade
eu é que fugi da fruta
e saí de mim...

Pomar, poema publicado em Tectônicas, Ed. Bem-Te-Vi, 2007



Nasci no pop,
cresci entre o minimalismo
e outras vanguardas,
agora estou aqui
no pós–pós.
No mundo aflito
do consumo
o templo é a maçã.


Prazeres Culturais é um poema inédito




 foto maria kikoler





Uma linha tênue
abriga uma contramão,
proposta consciente de
estar por aqui,
toda feita de som e fúria.

Aparecem castigados abrigos,
interrompendo uma repetição,
um tique-taque, um toque-toque
sem afago ou corrimão,

ausência de fôlego –
na busca por uma superfície densa
não tem como enxugar tudo,
nem como não se repetir.


Fora de foco é um poema inédito

                                                                          

"Imagens do ar, suaves, flutuantes, 

Ou deliradas, do alcantil sonoro,
Cria nossa alma; imagens arrogantes, 

Ou qual aquela, que há de riso e choro: 

Uma imagem fatal (para o ocidente, 

Para os campos formosos d'áureas gemas, 

O sol, cingida a fronte de diademas, 

índio e belo atravessa lentamente): 

Estrela de carvão, astro apagado

Prende-se mal seguro, vivo e cego,

Na abóbada dos céus, — negro morcego

Estende as asas no ar equilibrado."
                                           


Sousândrade, trecho do canto terceiro de Guesa Errante


título: Modinha de Tom Jobim e Vinícius de Moraes

* trecho de Via da Paixão, Estações de Pagu

** trecho de Canção do Mês de Maio, do livro Poemas, Jacques Prévert, tradução de Silviano Santiago, Ed. Nova Fronteira, 1985







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