quarta-feira, 18 de abril de 2012

de noite na cama, eu fico pensando


Ouça




Não se meta,
tenha meta,
não uma seta giratória
que atira pra qualquer lado,
uma metalinguagem.


Músculo Heterodoxo




Debilitei
aquela parte muscular
correspondente ao heterodoxo,
menosprezada pelo paradoxo,
esgarçada pelo espanto.

A sorte é
que pulmões e coração
respiram e pulsam harmoniosamente,
aguentam cavar na lama.
Quando o pescoço dói,
descansam.






woman in chemise, andré derain





O Grilo Da Primavera Aborda A Questão Da Negritude




Tocava meus sons totalmente sozinho;
não sabia de alguém mais
com quem pudesse tocar.

Certo, os sons eram tristes–
mas doces, também, e não surgiriam
até que o dia fosse embora. Você sabe

aquele jeito que o céu tem de pendurar
suas últimas nuvens luminosas? É quando
a dor iria aflorar dentro

até que eu não pudesse esperar; me ajoelhei
para roçar-me limpo
e não me importei que escutassem.

Então vieram os gritos e os assobios,
um encurralar em potes, um escalar de pernas.
Agora haviam outros: tombados,

nublados. Eu não sabia seus nomes.
Éramos um brinquedo musical;
crianças dormiam sob nossos ásperos suspiros.

E se de vez em quando um de nós
sacudisse livre e se enganchasse enquanto subia
até a borda, ele iria sempre

cair de novo. O que os fazia rir
e bater palmas. Então pelo menos
sabíamos o que os agradava

e onde o abismo estava.




The Spring Cricket Considers The Question Of Negritude




I was playing my tunes all by myself;
I didn’t know anybody else
who could play along

Sure, the tunes were sad–
but sweet, too, and would’t come
until the day gave out. You know

that way the sky has of dangling
her last bright wisps? That’s when
the ache would bloom inside

until I couldn’t wait; I knelt down
to scrape myself clean
and didn’t care who heard.

Then came the shouts and whistles,
the roundup into jars, a clamber of legs.
Now there were others: tumbled,

clouded. I dind’t  know their names.
We were a musical lantern;
children slept to our rasping sighs.

And if now and then one of us
shook free and snag as he climbed
to the brim, he would always

fall again. Which made them laugh
and clap their hands. At least then
we knew what pleased them,

and where the brinck was.


Poema de Rita Dove publicado na revista New Yorker de 27/02/2012, tradução Solange Casotti






autorretrato, jeanne hébuterne





Quando a ciência descobre algo que muda toda a concepção do que pode existir em termos de vida na face da Terra, pensamos: quantos estudos e teorias serão obrigados a rever seus conceitos, as bases mudaram. E foi isso o que aconteceu, no ano passado descobriram uma bactéria num lago na Califórnia que contém arsênico em sua composição química. “Até a descoberta desse microorganismo, se achava que toda a vida conhecida na Terra, da maior das baleias à menor das amebas, tinha como base os mesmos seis elementos – carbono, oxigênio, hidrogênio, nitrogênio, enxofre e fósforo.(...) Nossa descoberta é uma lembrança de que  a vida como conhecemos pode ser mais flexível do que presumimos ou podemos imaginar.”  (O Globo, 3/12/2011)




O poema é
A liberdade

Um poema não se programa
Porém a disciplina
–Sílaba por sílaba –
O acompanha

Sílaba por sílaba
O poema emerge
– Como se os deuses os dessem
O fazemos


Liberdade, poema de Sofia de Mello Breyner, publicado em Poemas Escolhidos, Seleção de Vilma Arêas, Editora Companhia das Letras, 2004




Livre Jogo
                  d’après Pedro Duarte




Também o amor,
além da arte,
proporciona tal experiência
que ao invés de exigir: saia,
nos impele a entrar.




Ouça, Músculo Heterodoxo e Livre Jogo são poema inéditos

Título: De Noite na Cama de Caetano Veloso  

Pedro Duarte é doutor em filosofia pela PUC- RJ e publicou o livro Estio do Tempo: Romantismo e estética moderna, Editora Zahar, 2011




3 comentários:

  1. Solange, encontrei o teu blog por acaso, mas atraquei aqui para voltar sempre!

    Poemas e descobertas científicas, um misto de tudo o que amo, isso sem falar nas obras de arte que tu põem para enriquecer ainda mais o teu lugar... Amei tudo.

    Abraços mil

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  2. Bom saber, Janaína!
    Agradeço seu comentário, é muito bom ter um retorno dos leitores.
    Abraços

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