segunda-feira, 28 de maio de 2012

vou me embora desse mundo de ilusão






Comovente

Lo que se llama "caer en la cuenta"
es un proceso lento y sinuoso
porque nosotros mismos
somos cómplices de nuestros
errores y engaños.
Octavio Paz




Estamos tomando medidas desapropriadas para os cuidados,
não estamos tomando nenhuma medida,
não temos interesse e paciência para prestar atenção,
não conseguimos tecer fios fortes e leves,

Dizem que tudo o que poderia importar é... o quê?
O momento, o prazer.

Desestabilizamos todos os sistemas naturais
e depois?
Talvez tenhamos que começar tudo de novo.

Melhor ter lugar para preencher
essa necessidade de escrever.






 foto ana carolina fernandes






Fragmentos de um discurso desdramatizante


O sol cegava só os corações vazios, em outros servia de adubo, plantava soluções discrepantes querendo harmonizar reações, idiossincrasias.

Atenuantes perguntas – antes camufladas nas entrelinhas do desenvolvimento dialético – socorriam a alma perplexa. Chorava de vez em quando, num espaço cronometrado para o íntimo.

O departamento de criação, sincronizado com o vai em frente zen, acontecia automaticamente no desenrolar de um percurso crivado de emoções cálidas.

O caminho ia se alargando, enquanto isso, simbolismos ingênuos transferiam-se para o cerne  de certas comparações metafóricas, formalizando o desafio de contemplar atos interpostos.



Para as Mulheres, No Que Me Toca





Os sentimentos que eu não tenho, não tenho.
Os sentimentos que não tenho, não direi que os tenha.
Nenhum de nós tem os sentimentos que seria de seu agrado que nós dois tivéssemos.
As pessoas não têm os sentimentos que têm obrigação de ter.
Quando elas dizem que estão com sentimentos, não estão com nada.
Tenha certeza disso.

Se você quiser assim que algum de nós sinta coisas,
é melhor abandonar essa ideia e não pensar nunca mais em sentimentos.

To Women, as far as I’m concerned
D.H. Lawrence tradução de Leonardo Fróes




  foto ana carolina fernandes



“Para o homem, a grande maravilha é estar vivo. Para o homem, como para a flor e a fera e o pássaro, o supremo triunfo é estar repleto de vida, vivo na maior perfeição. Seja o que for que talvez saibam os nascituros e os mortos, eles não podem conhecer a beleza, a maravilha de estar vivo na carne. Os mortos podem se encarregar do depois. Mas o grandioso aqui e agora da carne é nosso, e só nosso, e nosso apenas por um tempo. Devemos dançar em êxtase por estarmos vivos e sermos parte do cosmo encarnado e vivo. Sou uma parte do sol como meu olho é parte de mim. Que sou parte da terra, meus pés sabem perfeitamente, e meu sangue é parte do mar. Minha alma sabe que sou parte da raça humana, como meu espírito é parte do meu país. Sou parte da minha família, em meu próprio ser. Não há nada de mim que seja absoluto e só, exceto minha mente, mas descobriremos que a mente não tem uma existência em si mesma, é apenas o brilho do sol sobre a superfície das águas.

Meu individualismo é assim uma ilusão realmente. Sou parte do grande todo e disso nunca posso esquecer. Mas posso negar minhas conexões, quebrá-las e me tornar um fragmento. Nesse caso eu me torno um desgraçado.

O que queremos é destruir nossas falsas conexões inorgânicas, especialmente as relacionadas ao dinheiro, e restabelecer as conexões orgânicas vivas, com o cosmo, o sol e a terra, com a humanidade, o país e a família. Comece com o sol e o resto – lenta, lentamente – acontecerá.”


D. H. Lawrence (Inglaterra, 1885-1930) é mais conhecido por seus romances, entretanto, sempre escreveu poesia. O poema e o texto acima foram extraídos do livro: Poemas de D. H Lawrence Edição bilíngue do centenário. Seleção, tradução e  introdução de Leonardo Fróes, Ed. Alhambra, 1985.

Título: Na Linha do Mar de Paulinho da Viola


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