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Para
sentir o gosto da sombra,
uma
expressividade inata,
hipersensibilidade,
que
desconfia do mundo.
Mudar
o metabolismo,
reformular
o fluxo,
desengavetar
pensamento,
original,
autêntico,
provar
que
nem tudo pode ser provado.
Educação Para a Preguiça
D’après Olgária Matos
Superação –
a cultura do excesso
foge da plenitude
para a eterna cobrança –
O sonho divino –
criar sem esforço,
a preguiça ativa.
foto solange casotti
“O filósofo esloveno Slavoj Zizek (sorry, mas não consegui acentuar o ^ do nome) distingue três tipos de banheiros no
mundo ocidental: os alemães, os franceses e os anglo saxões. Os banheiros
alemães tem um “trono” situado “bem à frente”. Isso, para favorecer a inspeção
de “todo vestígio de doença”. Ele liga ainda esta “fascinação ambígua e
contemplativa” ao “rigor reflexivo germânico” e à importância da poesia e da
metafísica alemãs. O trono do vaso francês,
situado ao contrário “bem para trás”, evoca para Zizek a “ânsia
revolucionária francesa”, apressada em se livrar do elemento perturbador, com
seu radicalismo político. Enfim, o modo inglês ou americano constitui uma “espécie
de síntese”, o vaso é “cheio de água” de modo que os excrementos são “bem
visíveis mas não para serem examinados”... Eis então o pragmatismo anglo-saxão
que, segundo o filósofo, “trata a merda como um objeto ordinário o qual deve ser
eliminado da maneira mais apropriada”.
Por aqui, copiamos a maneira
americana, mas temos fortes resquícios de país colonizado. Dos indígenas herdamos a capacidade natural de deixar o
excremento se misturar à natureza que é para onde sempre vai o produto final. E da miscigenação, o que herdamos? Me parece, uma capacidade
natural de nos ambientarmos. Ao mesmo tempo, desenvolvemos um certo “remelexo
adaptativo” capaz de inventar soluções bastante criativas.
foto solange casotti
Às vezes tenho uma imensa
nostalgia da infância e de cidade
pequena. Tenho saudade do tempo em que ainda acreditava numa certa pureza. Me
lembro a única vez que fui atropelada, na década de 1970, por um fusca azul 1967, quase pedi
perdão ao motorista, pois eu saí do ônibus escolar e entrei na frente do carro,
a roda apenas roçou meu braço, ainda assim, o motorista fez questão de me levar
até em casa e falar com meus pais.
Lamento que falte tanta
ética e bom senso nessa metrópole balneário
em que vivemos. Essa falta está presente nas mais diferentes esferas, desde o
sujeito que atropela um menino de 13 anos e não se digna a socorrer até os altos cargos do poder,
atropelando a vida de tanta gente.
Me
lembrei de uma frase que tinha lá na praça da cidade pequena, não mais tão
pequena, deve estar lá ainda, junto ao busto do poeta Newton Braga: “Esta sensibilidade que é uma antena delicadíssima, captando pedaços de todas as dores do mundo,
e que me fará morrer de dores que não são minhas”
Vontade
Eu queria ser um pouco mais
igual a todo mundo.
Queria ser um sujeito
simples,
de ambições determinadas,
de dores pouco profundas,
de sentimentalismo menos
doentio.
Queria viver sem essas
complicações interiores,
sem o martírio do pensamento
e da sensibilidade,
com a despreocupação ingênua
dos primitivos
e dos imbecis.
Queria acreditar em todas as
verdades femininas,
na sinceridade de todos os
amigos
e na pureza de todos os
aplausos e todas as pedradas.
Queria ser amado, como toda
gente,
e, como todos, variar no
amor, despreocupadamente.
Eu queria ter a alma
simples, simples.
Tão simples que certamente
numa tarde como esta,
eu diria para mim mesmo:
– Eu gosto da vida. A vida é
boa.
E é possível que eu
acreditasse.
Poema de Newton Braga (1911- 1962) publicado em “Poesia
e Prosa”, reedição particular do mesmo título publicado em 1964 pela Editora do
Autor.
Título: Fora de Ordem,
Caetano Veloso
O poema inédito Educação
Para a Preguiça foi extraído de anotações feitas durante a palestra de mesmo
nome no Ciclo “Elogio à Preguiça”, no
dia 26 de setembro de 2011, na ABL Rio de Janeiro por Olgária Matos
*Élise Nebout em Philosophie
Magazine N 26 Février 2009, tradução Solange Casotti
Além da poesia com as palavras a poesia do seu olhar muito me encantou.
ResponderExcluirAdoro "remelexo adaptativo" e a "sensibilidade que é uma antena delicadíssima" do Newton Braga.
Bjs
Adorei esse post. Sensibilidade da poeta em alta voltagem.
ResponderExcluirHelena