quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

não deixe o samba morrer




 A Casa



Ambições poéticas
habitam o verso,

flagrante desejo,
cisma de resistência,

dinâmico diálogo,
desliza na imagem,

abismo de acesso,
passagem para...




Chácaras da Mente



Asperezas rarefeitas,
flagrante perfeito:
calma sonho, plenitude.
– Abre-te Sésamo!

A ligação do sino
com o silêncio
etéreo.

Chácaras da mente
apontam o sério,
dizem a verdade.




Temperos



Na arrogância,
um basta,
sem alianças,

no azedume,
suspiro,
pitada de limão,

no sal,
um susto,
um susto no sal,

no frescor
verde
erva é sugestão.

A arte de misturar,
variar temperos,
destrói vermes
literalmente.





 foto g secchin



Não resisti, copiei trechos do brilhante ensaio “A Propósito do Otimismo” de André Lara Resende publicado na revista Piauí de número 76, de janeiro de 2013. Ele começa fazendo uma análise do livro The Rational Optimist de Matt Ridley, e termina com os parágrafos abaixo.

“O conhecimento é efetivamente cumulativo, possivelmente até mesmo exponencial, mas a vida humana não é uma atividade cumulativa. Não há garantia de que aquilo que avançou numa geração não vá ser integralmente perdido na próxima. (...)

Precisamos desesperadamente encontrar um sentido para a existência. Despidos da religiosidade tradicional, já não podemos mais crer na sacralidade da vida. Passamos então a crer no progresso da humanidade. Infelizmente trocamos uma bela e reconfortante ilusão por um mito arrogante. É essa arrogância que aparece no desprezo pelo planeta, que subordina toda biodiversidade ao nosso instinto predador, que nos faz acreditar sermos capazes de controlar nosso mundo e nosso destino.

Talvez não possamos prescindir de algumas ilusões. A esperança é com certeza uma delas. Talvez por isso o otimismo nos faça bem. Ter esperança de que as coisas vão melhorar quando estão mal, de que seremos capazes de realizar os desafios que nos impusemos, de que iremos em frente, parece fundamental para nossa saúde física e emocional. Mas é preciso ter esperança sem procurar razões para ter esperança. Aceitar a contradição entre nosso impulso vital, que é a esperança, e a razão que é o instrumento de que dispomos para nos guiar num mundo perigoso. Um mundo implacável, do qual temos dificuldade de extrair sentido. A razão deveria nos fazer cautelosos, sóbrios e humildes. A razão toma nota, faz o mapa do nosso entorno, soa o alarme, alerta para os riscos do desconhecido. A esperança é humilde e essencialmente irracional. Há uma insuperável contradição entre a racionalidade e o otimismo. Uma contradição vital, da qual dependemos e não podemos prescindir. Quando pretendemos superar essa contradição, explicar o otimismo pela razão, traímos a razão. Quando a esperança se torna arrogante, traímos a esperança.”


título, não deixe o samba morrer de Edson Conceição e Aloísio

A Casa é um poema inédito, Temperos e Chácaras da Mente foram publicados em Tectônicas, Ed. Bem-Te-Vi, 2007.

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