O próximo
Escuta a magreza
O próximo
Tosse
O próximo
Obesidade mórbida
O próximo
Vermelhidão na cútis
O próximo
Está enterrado
Foi uma morte violenta.
foto nasa
Meu filho, quem sou eu para escrever sobre a
morte. Acho uma difícil tarefa. Tanto já se falou sobre a morte e tanto já se
especulou sobre o que acontece com a gente depois da morte. Prefiro ver a morte
como parte da vida e valorizar o tempo. O nosso corpo é nossa morada nesse espaço
de tempo que contemplamos o que chamamos de vida. Estamos sujeitos a doenças e
acidentes, somos frágeis. Por isso, acho super importante cuidar e prestar
atenção nele. O corpo se deteriora com a idade e simplesmente não vale nada
após a morte. Mas o que acontece com aquilo que chamamos espírito? Não sei, não
há explicações científicas e há inúmeras hipóteses apontadas pelas religiões.
Há dois livros, um dia você poderá ler – eles
falam da morte de uma maneira que me tocou profundamente. O primeiro foi
escrito por uma francesa que escrevia livros de filosofia, mas escreveu um
romance que é uma história grande e inventada, o nome dela é Simone de
Beauvoir. O livro chama-se “Todos os Homens são Mortais“, conta a história de
um homem que nunca morre, já casou, já teve filhos, já presenciou guerras e
tudo ia se repetindo, ele se apaixonava, casava com mulheres belíssimas, elas
morriam, os filhos morriam e tudo começava de novo. Após muitos anos, séculos,
nada mais tinha a menor graça para ele, ele estava cansado, mas sua vida não
tinha fim.
O outro livro, tem um pequeno texto, de um
escritor já morto muito conhecido por seus livros, Thomas Mann. Ele escreveu um pequeno ensaio chamado “Elogio
da Transitoriedade” onde conta porque ele considera a “transitoriedade” a
coisa mais importante, o que está acima de tudo na vida. Espero que um dia, eu
possa ler essas páginas junto com você. Pois hoje, eu já sinto saudades futuras de um tempo que não estarei mais por aqui.
Madrid, 1937,
na Plaza del Ángel as mulheres
costuravam e cantavam com seus filhos,
depois soou o alarme e houve gritos,
casas ajoelhadas no pó,
torres fendidas, fachadas esculpidas
e o furacão dos motores, fixo:
os dois se despiram e se amaram
por defender nossa porção eterna,
nossa ração de tempo e paraíso,
tocar nossa raiz e nos recobrar,
recobrar nossa herança arrebatada
por ladrões de vida há mil séculos,
os dois se despiram e se beijaram
porque as nudezes enlaçadas
saltam o tempo e não invulneráveis,
nada as toca, voltam ao princípio,
não há tu nem eu, amanhã, ontem nem nomes,
verdade de dois em um só corpo e alma,
oh ser total…
Trecho
de “Pedra do Sol” de Octavio Paz, traduzido por Floriano Martins
Título: Itapuã de Vinícius de Moraes
Carta ao filho, texto inédito
“Ufa!” é um poema inédito
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