segunda-feira, 31 de março de 2014

isto aqui ô ô, é um pouquinho de Brasil iaiá




Apropriação Indébita



Quem será que disse isso?
O homem não age mais, o
homem se comporta.

Fundamental é mesmo o amor,
quem será que disse isso?

A volta do irmão do Henfil,
quem será que era esse cara?

Se você insiste em classificar
o silêncio dos inocentes
é um filme.





 foto tela gsecchin


Passeata nº2



Claridade de LED numa noite penosa...
Melodias....Gritos ... Mesclas...
A Terra é toda uma batalha convencional de papel e moeda;
e os bichos escrotos dos planaltos no longe
Oh! para além vivem as milícias eternas!

As casas invadidas
parecem reações a um explorador do tempo
que parou no próprio bolso.

Lá para as bandas dos cracudos o abandono arrefece...
Todos os estiolados são muito misturados.
Os invernos de Paulicéia são como enterros de amarildos...
Trabalhadores, saíram de seus estados!

Lembras-te?as traineiras dos céus azuis nas águas     
                                                                       marrons...
Marrom – cor da foz dos rios!
O vinhoto dos canaviais para os lagos...
Outonal – têm olhos dos loucos!

Catracas ligam a alma de Paulicéia
numa cor de cinza desinfetante...
Oh! Para além das vitrines dos shoppings!

Mas os homens passam petrificados
E rodando num mercado nefasto,
vestidas de agrotóxico e fumaça
As doenças jocotoam em cima....

Grande função ao ar livre!
Bailado globalizado em occupy a avenida!
Opus 2013

São Paulo é um palco de Bertazzo.
Sarabandam a poluição, a ambição, as invejas, os crimes
e também as apoteoses de omissão...
Mas o Mídia Ninja sou eu!
e vem a Morte, numa bala de verdade!
Quá, quá, quá! Vamos dançar o samba da desesperança  
a chorar e a rir, junto dos nossos des-iguais!


Passeata nº 2 é um poema inédito que faz uma sobreposição ( não gosto do termo paródia) ao poema seguinte, escrito por Mário de Andrade e publicado em Paulicéia Desvairada, 1922.


Paisagem n.º 2



Escuridão dum meio-dia de invernia...
Marasmos... Estremeções... Brancos...
O céu é toda uma batalha convencional de confetti brancos;
e as onças pardas das montanhas no longe...
Oh! para além vivem as primaveras eternas!

As casas adormecidas
parecem teatrais gestos dum explorador do polo
que o gelo parou no frio...

Lá para as bandas do Ipiranga as oficinas tossem...
Todos os estiolados são muito brancos.
Os invernos de Paulicéia são como enterros de virgem...
Italianinha, torna al tuo paese!  

Lembras-te? as barcarolas dos céus azuis nas águas verdes
Verde – cor dos olhos dos loucos!
As cascatas das violetas para os lagos...
Primaveral – cor dos olhos dos loucos!

Deus recortou a alma de Paulicéia
num cor de cinza sem odor...
Oh! Para além vivem as primaveras eternas!...

Mas os homens passam sonambulando...
E rodando num bando nefário,
vestidas de eletricidade e gasolina,
as doenças jocotoam em redor...

Grande função ao ar livre!
Bailado de Cocteau com os barulhadores de Russolo!
Opus 1921

São Paulo é um palco de bailados russos.
Sarabandam a tísica, a ambição, as invejas, os crimes
e também as apoteoses de ilusão...
Mas o Nijinsky sou eu!
e vem a Morte, minha Karsavina!
Quá, quá, quá! Vamos dançar o fox-trot da desesperança,
a rir, a rir, dos nossos desiguais!

Poema publicado em Mário de Andrade, Poesias Completas, edição crítica de Diléa Zanotto Manfio, Villa Rica Editoras Reunidas, 1986.



 foto tela gsecchin


Não pergunte por quê,
quando o sol chegar, respondo.
Jamais nunca jamais,
prazer, tanto prazer
mudanças, mil mudanças.

Quando criança, não gostava de ameixas,
não gostava de passas também,
já que me lembravam ameixas.

Hoje entendo,
passas são diferentes de ameixas,
descobri adorar passas,
que nada têm a ver com ameixas.

Passas, poema publicado em Ventanias, Ed. Sete Letras, 1997.
título: Isto aqui, o que é? ou Sandália de Prata de Ary Barroso




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